PROFESSORES PARA ACENDER OS DIAS
“Acender os dias era sempre a possibilidade de uma nova criação. Era importante dormir com esperança.” (Valter Hugo Mãe)
Há poucos dias comemoramos o dia do professor recordando seu fundamental papel na sociedade. Se outrora sua missão era significativa, muito mais importante torna-se no momento atual, devido à complexidade do tempo e da trama das relações tecidas pela sociedade.
Os profetas da noite já anunciaram o fim da profissão docente, uma vez que a inteligência artificial ameaça tomar conta de tudo, resolvendo de vez os problemas relativos às dificuldades de aprendizagem, aportando ao ser humano recursos de conteúdo e metodologias infalíveis, pois condensam milhões de informações que ajudarão a pessoa facilitando o acesso a tudo e, talvez, tirando-nos a ‘dor’ de precisarmos pensar.
Tudo seria maravilhoso se a tarefa dos docentes terminasse aí. Entretanto, quem se dedica à educação e vive a escola/ a universidade por dentro sabe muito bem que educar implica em presença, afeto, crise, recomeços e inúmeras outras interações necessárias ao desenvolvimento do estudante. Não se trata de encher a cabeça, mas de ‘acender os dias’, isto é proporcionar perspectivas, resiliência e capacidade de superação, além de instigar para que o estudante dê mais de si às atividades que realiza.
Acender os dias constitui-se, pois, na cansativa, mas também compensadora, missão empreendida por quem escolheu o caminho mais longo e mais difícil de ajudar o ser humano a contemplar-se como um ser de possibilidades. O professor, em sua singularidade, apresenta-se como inspiração a quem está em processo de ‘tornar-se’. Ao contrário da máquina, ele/ela podem contribuir oferecendo suas experiências na caminhada da construção profissional e existencial. Pode também perceber, com sensibilidade aguçada, quando um estudante precisa de algo a mais do que meramente conhecimentos oferecendo-lhe afeto e apoio emocional. O educador pode, ainda, juntamente com os outros que compõem sua comunidade educativa criar espaço para escuta, acompanhamento e proposições de projetos capazes de operar transformações na vida de muitos ao seu redor.
A bela imagem de Valter Hugo Mãe desafia-nos à sutil, mas tão relevante tarefa de acender os dias. Para que a noite não chegue com sua força destruidora de sonhos, o mundo necessita de educadores e educadoras que caminhem ao lado dos estudantes, nem à frente nem atrás, ao lado desses que, não raras vezes, têm somente a nós. E mesmo que as fainas pareçam cansativas e monótonas numa insistente mania de enxugar gelo, olhemos para mais além e pensemos nas infinitas possibilidades destes que, diante de nós, esperam-nos para acendermos seus dias com a esperança, que nunca falha. Em tempo: todos os dias são dias dos professores, daqueles que se dispõem a acender luzes…
Aos que acendem luzes, o obrigado da escola de hoje, da escola de amanhã e da escola de depois de amanhã, pois continuaremos precisando de vocês.
Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade