Quaresma: tempo de descer para poder ascender

Nos mais variados ambientes de uma sociedade encontramos pessoas soberbas, arrogantes, cheias de si, pessoas que se julgam melhores do que as outras, pessoas que se julgam superiores. Sendo assim, precisamos olhar para nós mesmos. Nos coloquemos como que diante de um espelho e procuremos olhar para nós mesmos, mas para dentro, para o nosso interior, e assim perceber se também nós nos enchemos de prepotência, soberba, de arrogância, nos julgando melhores que os outros.

Este é o alerta do Evangelho para nós. Em Lc 18, 9-14, o evangelista nos diz que, vivendo no meio de pessoas arrogantes, que se julgavam melhores que as outras, como se fossem elas as únicas a se salvarem. Jesus nos convida a cultivar a humildade como abertura para Deus, a fim de que possamos sair da oração transformados, lembrando que só podemos mudar se reconhecemos que a salvação é graça de Deus, e não fruto de nossos próprios méritos. Ou seja, o primeiro passo para a nossa salvação é reconhecer a nossa pequenez, o nada que somos sem a grandeza da graça de Deus.

A oração é um dos caminhos propostos para quaresma. Na oração devemos nos colocar diante de Deus com aquela atitude onde reconhecemos de onde viemos e quem somos: somos barro, e como barro, somos absolutamente dependentes de Deus. Como barro, somos também “sujos”, e só Deus com a água da sua graça pode nos purificar.

A oração deve ser o momento onde entramos barro e saímos vaso novo (cf. Jr 18,1-6), onde entramos feridos e saímos curados, onde entramos pecadores e saímos perdoados. Pena que às vezes, saímos da oração do mesmo jeito que entramos, porque, quando nos colocamos na presença de Deus, rezamos como o fariseu do texto bíblico lembrado a cima: “de pé”, para que não somente Deus, mas todas as outras pessoas da igreja possam ver o quanto somos bons, perfeitos, retos, íntegros, observantes fiéis das normas religiosas, diferentes de tantas outras, das quais julgamos ser superiores.

Há algum tempo li um artigo onde o autor lembrava que o piloto alemão Vettel, ao conquistar o tetra campeonato mundial de fórmula 1 na Índia, disse: “Assim que cruzei a linha de chegada me deu um vazio”. De fato: eu posso ocupar os melhores ou mais altos postos, mas se eu não der um sentido para tudo a minha vida não passa de um vazio. A pessoa, por exemplo, que tem necessidade de aparecer, ocupar os primeiros lugares muitas vezes é para preencher o vazio existencial.

Como eu me coloco diante de Deus na oração? Com o coração arrogante, como uma pessoa cheia de si mesma ou como uma pessoa que, na sua humildade e simplicidade de coração, tem espaço para Deus entrar? Talvez São Francisco de Sales, com sua sabedoria possa nos ajudar melhor viver este tempo de quaresma: tempo de descer para poder ascender. Assim ele nos ensina “Só se sobe quando se desce”.

 

Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé