Regional Sul 3 assume compromisso da cooperação missionária
Um sinal importante do compromisso missionário no RS é a consolidação e manutenção dos projetos de missão ad gentes em Moçambique e de Igrejas Irmãs na região amazônica pelas dioceses do Regional
Cada Igreja particular, uma Igreja irmã; Cada Regional, um projeto ad gentes para além-fronteiras. O desafio é proposto à Igreja no Brasil pelo Programa Missionário Nacional (2019-2023) e chama todos à missão de concretizar uma Igreja em saída sinodal.
No Regional Sul 3 da CNBB, a missão ad gentes é prioridade desde 1994, quando a Igreja do Rio Grande do Sul assumiu o projeto Igrejas Solidárias com a Arquidiocese de Nampula, em Moçambique. Desde lá, há 28 anos o Regional envia missionários e mantém a missão que atualmente conta com quatro missionários que atendem duas paróquias, somando 150 comunidades, e desenvolvem projetos na área da educação com a comunidade local.
No âmbito das Igrejas Particulares, as arqui/dioceses do Estado têm assumido constantemente a provocação que chega também através das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, buscando formas de concretizar cada vez mais o pilar da Missão em sua realidade e assumindo o chamado aos projetos de Igrejas Irmãs.
Os primeiros passos
A Diocese de Montengro enviou no dia 31 de janeiro o primeiro missionário à Prelazia do Alto Xingu-Tucumã. Pe. Blásio Henz, que deve permanecer três anos na missão na Amazônia, assume o compromisso de inaugurar o projeto firmado entre a Diocese e a Prelazia, e afirma estar muito feliz com a missão que assumiu. Ciente dos desafios que irá encontrar, destacou que leva consigo toda a Diocese de Montenegro, que abraçou com ele este projeto.
Dom Carlos Rômulo, bispo diocesano, explica que o caminho para a consolidação do projeto Igrejas Irmãs não foi simples.
Desde a origem da diocese (2008) sempre se falou em ter um projeto missionário. Esta conversa sempre voltava, principalmente nas reuniões e encontros do clero. Numa escuta do clero isto ficou mais claro e então foi definida numa Assembleia. Claro, depois precisávamos definir onde ser este sinal. Pe Blásio e Pe. Gabriel Bagatini passaram 20 dias visitando aquela região e a Prelazia do Alto Xingu, quando então decidimos que lá seria nossa missão, relata dom Carlos.
Um dos grandes frutos dos projetos de Igrejas Irmãs no Brasil é o crescimento da necessidade da cooperação missionária gerado a partir da missão em outro chão. Isso também provoca uma grande animação à Igreja que envia seus missionários, conforme aponta dom Carlos: “O fato de termos uma Igreja Irmã e lá um padre de nossa Diocese, significa que devemos ser todos missionários aqui. É um chamado permanente. Para a Prelazia, é também um sinal. Significa que tudo o que fazem lá, é muito importante. Todo o esforço das lideranças, as distâncias, revela que a evangelização é algo muito especial, tanto assim, que uma Igreja distante, do Sul do Brasil, vem ao encontro da Prelazia. Só entendemos isto, se tivermos a capacidade de olhar tudo como sinal, como é o Reino de Deus. O Projeto Igreja Irmã é uma riqueza para quem envia e para quem recebe”, conclui o bispo.
Frutos do Mês Missionário Extraordinário
O casal Marilene Gayger Dias e Flávio Arão Pereira, junto com o Pe. Rodrigo Schüler de Souza formam a atual equipe missionária do projeto Igrejas Irmãs da Diocese de Osório na Prelazia de Itacoatiara, no Amazonas. A iniciativa, que começou em 2019, nasceu por uma conversa entre o bispo diocesano, dom Jaime Pedro Kohl e alguns bispos da região Amazônica e hoje se destaca no Estado por integrar uma comunidade missionária mista, que integra padres e leigos.
Dom Jaime, que também integra a Comissão Missionária do Regional Sul 3, explica que o projeto nasceu na diocese como provocação do Mês Missionário Extraordinário convocado pelo Papa Francisco em outubro de 2019. “Achamos por bem dar o primeiro passo e como sinal concreto acertamos o envio do seminarista Edivan Machado como experiência do seu Ano Pastoral, com a responsabilidade de ver como melhor a Diocese de Osório poderia cooperar com a Prelazia de Itacoatiara. Eu mesmo estive visitando e acertamos de assumir o cuidado pastoral de uma paróquia”, lembra dom Jaime.
A diocese, que vê a missão na Amazônia como sua 24ª paróquia, também aposta na experiência missionária como parte da formação de seus seminaristas e acredita que todos os cristãos, de todas as comunidades, devem se envolver e se comprometer com a Igreja Irmã de Itacoatiara. “As relações entre as duas Igrejas Irmãs deverão se estreitar na medida que vamos interagindo, segundo as necessidades e situações”, aponta dom Jaime.
Quase 5 décadas de Missão
Foi em 24 de janeiro quando partiram, acompanhados do arcebispo dom Jaime Spengler, o padre Tiago Camargo e o seminarista Darlan Schwaab para a missão na Diocese de Xingu-Altamira, no Estado do Pará. É lá, que há 49 anos, a Arquidiocese de Porto Alegre abraçou a sua Igreja Irmã.
Em 1973, a então Prelazia do Xingu, recebeu três padres missionários: Léo Schneider, que permaneceu por 12 anos, Oscar Führ, que faleceu de câncer no Xingu, em 2004; e foi sepultado “junto a seu povo no Brasil Novo”, na Transamazônica; e o padre Alírio Bervian, que chegou a Altamira em 1973 e permanece lá até hoje. O último enviado, Pe. João Carlos Andrade da Silveira (Pe. Joca), esteve em missão durante quase quatro anos e retornou para a Arquidiocese de Porto Alegre neste mês de fevereiro.
Em quase um mês de missão, Pe. Tiago já chegou à Porto de Moz, onde está a Paróquia São Braz, que assumirá como pároco. Ele aponta como tem vivido este tempo desde a chegada:
Conhecendo a comunidade aos poucos, me adaptando à realidade, vamos observando e descobrindo os caminhos da missão. Creio que os primeiros tempos são mais desafiadores, mas com a graça de Deus vamos fazendo a experiência de colocar os pés nesse chão, nessa realidade, nesse tempo e assim descobrindo os projetos que o Senhor tem para minha vida, vocação e ministério.
A paróquia é composta por 75 comunidades, dividida em 10 setores. Ele explica que a partir de março devem iniciar as visitas às comunidades do interior. “Na primeira saída serão 25 dias, passando um dia em cada comunidade, navegando pelos rios da região – entre eles o Xingu, o Guajará, o Amazonas –, para visitar os três primeiros setores, os mais distantes da sede: Uiui, Médio Guajará e Alto Guajará”, detalha o missionário.
Pe. Tiago, finaliza pontuando que a realidade amazônica se difere muito da realidade gaúcha em diversos aspectos: linguístico, geográfico, culturais, sociais, eclesiais. “Quanta riqueza e diversidade!”, aponta. “A relação com o tempo e o espaço ganha outra dimensão. As distâncias, os meios de acesso às comunidades, o planejamento pastoral, o acompanhamento e assistência religiosa ainda precisam ser assimilados para poder oferecer o melhor que nos for possível. E assim vamos seguindo na missão”, conclui.
Missão e fortalecimento eclesial
O caminho percorrido pela Igreja em saída é essencialmente um caminho missionário. Para a Igreja do Brasil, o desafio lançado pelo Programa Missionário Nacional quer provocar um despertar missionário que suscite experiências concretas de uma Igreja sinodal.
Ao se falar de missão ad gentes e dos projetos de Igrejas Irmãs no Brasil, sabemos de diversas iniciativas corajosas em ação. Por isso, deve ser sempre “meta das comunidades cristãs consolidar a mentalidade missionária. A missão é o paradigma de toda a ação eclesial” (DGAE, 186).
CNBB Sul 3