Somos uma missão
O mês de agosto sempre nos faz refletir sobre nosso papel, nossa vocação, ou seja, nossa existência-presença no mundo. Ninguém nasceu por acaso, ninguém está no mundo por estar, para simplesmente ocupar um espaço. “Cada um de nós é uma missão no mundo”, nos recorda o Papa Francisco. Ao criar todas as coisas Deus nos deu inteligência e capacidade para sermos colaboradores d`Ele com a criação. Para tanto Ele nos plantou no jardim do mundo como árvores capazes de produzir bons frutos. Por isso sempre é bom nos perguntar: Como está a árvore da minha vida? Há frutos nela, ou apenas folhas? Nós não podemos nos comportar na vida como uma árvore que ocupa inutilmente um lugar neste mundo, que apenas usufrui dos benefícios, mas não está disposta a dar a sua contribuição em favor da humanidade. Se nós nos limitamos a ser uma árvore que ocupa um espaço no mundo e que se nega a transformar o meio em que nos encontramos, necessitamos urgentemente de uma radical mudança.
Como é maravilhoso quando somos verdadeiras árvores frutíferas, exercendo com todas as forças a nossa missão de produzir muitos e bons frutos. Por outro lado, como é triste quando somos verdadeiros chupins. O chupim é conhecido pelo habito de colocar seus ovos no ninho de outras aves, para que as mesmas possam chocá-los, criá-los e alimentá-los como filhotes. Por isso acabou virando sinônimo de aproveitador.
É triste mas há muita gente que não se envolve com nada, não produz um fruto sequer, mas se sente no direito de colher e comer os frutos produzidos pelos outros. Esta realidade nós encontramos em todos os ambientes da sociedade. Há hoje uma crise enorme do voluntariado, ninguém quer compromisso. As desculpas são sempre as mesmas: “eu não tenho tempo, eu não tenho condições…”
A falta de consciência da nossa existência-presença no mundo, talvez seja hoje acompanhada ou alimentada por uma descrença, um marasmo, uma decepção, uma perda de sentido. Perguntemos aos professores e educadores se ainda acreditam na sua missão de educar, de formar a consciência das novas gerações e de ajudá-las a darem uma resposta de justiça, bondade e verdade a um mundo cada vez mais ferido pela injustiça, maldade e mentira. Perguntemos aos pregadores do Evangelho se ainda acreditam na sua missão de converterem corações de pedra em corações de carne, de despertarem nos seus ouvintes o desejo de se levantarem das sombras da morte e de caminharem na direção da luz da vida. Perguntemos aos pais ou responsáveis pelas crianças de hoje se ainda acreditam na sua missão de anunciar ideais e de propor valores a uma geração que escolhe fechar-se em si mesma, atrofiando-se nas suas emoções e não indo além dos interesses do seu próprio ego.
Este ano o tema do mês vocacional é “Igreja: uma sinfonia vocacional”. Na igreja cada um de nós dá a sua nota, o seu tom e assim geramos uma grande harmonia. O texto do mês vocacional nos recorda que a palavra sinfonia é de origem grega que significa “todos os sons juntos”, numa harmonia. Portanto, para exercermos bem a nossa vocação-missão é necessário vivermos em harmonia na igreja do Senhor, vivendo essencialmente a sinodalidade. O mesmo texto nos lembra também, que assim como a orquestra precisa da partitura para que haja uma sinfonia, na igreja também é preciso. Esta partitura para nós é a Palavra de Deus e o seu maior tom é o Evangelho.
Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé