Testemunhas da Esperança
Estou lendo o subsidio em preparação do 19º Encontro Nacional de Presbíteros, escrito pelo padre Humberto Robson de Carvalho, com o titulo, que é justamente o tema do encontro, “Presbíteros: testemunhas da esperança”. O tema me fez recordar uma obra que li há alguns anos. Refiro-me ao livro “Testemunhas da Esperança” do Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan. Acredito que este livro pode também servir como uma leitura complementar.
Quando fala de Jesus como única esperança, o autor faz uma reflexão muito interessante, que ele chama de “defeitos” de Jesus. Apresento aqui uma espécie de síntese da referida reflexão, o que julgo ser uma motivação para a leitura ou releitura da obra citada.
- Primeiro defeito: Jesus não tem memória. No alto da cruz Jesus ouve a voz do ladrão à sua direita: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino” (Lc 23,43). Jesus respondeu-lhe: “… hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Jesus esqueceu todos os crimes desse homem. Algo semelhante aconteceu com a pecadora que banhou os seus pés com perfume. Ele não lhe pergunta sobre seu escandaloso passado. Simplesmente diz: “Seus inúmeros pecados estão perdoados, porque muito amor demonstrou” (Lc 7,47)
- Segundo defeito: Jesus não sabe matemática. Se Jesus tivesse se submetido a um exame de matemática, certamente teria sido reprovado. “Um pastor tinha 100 ovelhas. Uma se extravia. Ele, imediatamente, deixa as 99 no redil e vai em busca da desgarrada. Reencontra-a, coloca-a no ombro e volta feliz” (cf. Lc 15,4-7). Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove e, talvez, até mais. Quem aceitaria algo deste tipo?
- Terceiro defeito: Jesus desconhece a lógica. Uma mulher possuía 10 dracmas. Perdeu uma. Acende a lâmpada; varre a casa, procura até encontrá-la. Quando a encontra convida suas amigas para partilhar sua alegria pelo reencontro da dracma. (Lc 15,8-10) De fato, não tem lógica fazer festa por uma dracma. “O coração tem suas razões que a própria razão desconhece”. Jesus revela a estranha lógica do seu coração: “Eu vos digo que haverá mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte…” (Lc 15,10).
- Quarto defeito: Jesus é aventureiro. Uma empresa ou organização geralmente possui projetos, planos cuidadosamente elaborados. Em nossas instituições religiosas não faltam programas prioritários; objetivos, estratégias. Nada de semelhante acontece com Jesus. Humanamente analisando, seu projeto está destinado ao fracasso. Aos apóstolos, que deixaram tudo para segui-lo, não garante sustento material, casa para morar, somente partilhar do seu estilo de vida. A um desejoso de tornar-se um seguidor, responde: “As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20). Os discípulos confiaram neste aventureiro. Muitos outros ao longo de mais de dois mil anos igualmente. Basta lembrar apenas da lista enorme dos santos e santas de todos os tempos.
- Quinto defeito: Jesus não entende de finanças nem economia. Se Jesus fosse o administrador de uma empresa a falência seria uma questão de dias. Como entender um administrador que paga o mesmo salário a quem inicia o trabalho cedo e a outro que só trabalha uma hora? Um descuido? Jesus fez as contas erradas?
Por que Jesus tem esses defeitos? Porque é Amor. O amor autêntico não é racional, não mede, não ergue barreiras, não calcula, não recorda as ofensas recebidas e não impõe condições. Jesus age sempre por amor. Graças a Deus, os “defeitos” de Jesus são incorrigíveis.
Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé