Um amor solidário
Este momento histórico que estamos vivendo, na caminhada da humanidade e da realidade brasileira, e a dor da perda de entes-queridos estão deixando marcas ou cicatrizes na vida e no coração de muitas pessoas e famílias, também no nosso país.
Todo ser humano que tenha um pouco de sentimento e bom senso não vive essa realidade, que está ceifando a vida de milhares de pessoas, com indiferença, ou sem manifestar sentimentos pela dor dos familiares que perderam e estão perdendo seus entes queridos. Sem esquecermos a dedicação e o empenho de milhares de profissionais que trabalham na área da saúde, colocando em risco a própria vida para cuidar da vida, dom de Deus.
As consequências da pandemia têm despertado a sensibilidade de muitas pessoas em relação à fragilidade da vida e a corresponsabilidade social. Como cidadãos, fomos sabiamente orientados a vivermos o isolamento social, como medida de proteção, para amenizar a contaminação pelo COVID19, que pode levar à morte. Muitos acolheram estas orientações com lamentos, e têm suas razões, devido aos vários transtornos que este causou na vida pessoal, familiar, nas instituições e empresas em escala local e mundial.
Diante desses fatos, muitos se deixaram contaminar ou foram contaminados pelo vírus da solidariedade, que procura proteger a vida, fazendo o bem, amenizando a dor no coração daqueles que estão passando por privações e necessidades. Essa corrente de solidariedade pela vida nos ajuda a tomarmos consciência do bem que podemos fazer para os outros, quando amamos e valorizamos a vida, dom de Deus que está em nós. Mas para nos envolvermos numa corrente de solidariedade pela vida, precisamos aprender a deixar de lado o nosso egoísmo, a nossa auto-suficiência, que não vê a necessidade do outro, e muitas vezes nos leva à falsa ilusão de que podemos viver o nosso peregrinar neste mundo protegidos pela redoma da indiferença.
“Quem me ama realmente guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e a ele nós viremos”(Jo 14,23). Viver o mandamento do amor na cotidianidade da vida é a melhor forma de manifestarmos o nosso amor a Deus e ao próximo. É sinal de que entramos naquela corrente de amor que emana da Trindade, mas chegou ao nosso coração e aí fez morada, gerando e alimentando um compromisso permanente com a vida, dom de Deus.
Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul