Visão Compartilhada

“ […] aprendizagem não é descobrir o que os outros já sabem, mas solucionar nossos próprios problemas de acordo com nossos próprios propósitos” (Handy, 1989).

Uma escola precisa ser algo maior do que a fusão de pessoas sem propósitos comuns. Para além das competências individuais, faz-se necessário construir pontes que aproximem os atores educacionais no que diz respeito aos ideais de educação. Não é suficiente que alguém tenha diplomas relativos à graduação acadêmica. É fundamental investigar o que pensam sobre educação, sobre o mundo, sobre as relações e sobre a pessoa humana.

A corrida pela qualificação em âmbito de mestrado e doutorado, respondendo à concorrência com evidências de que os professores de uma determinada instituição possuem níveis  superiores de proficiência em suas disciplinas   em relação aos outros, tem deixado abertos outros flancos, levando ao equívoco de imaginar que os diplomas sejam capazes de responder aos problemas de fundo da educação.

Há tempos fala-se sobre a fragilidade dos cursos de pedagogia e licenciatura em preparar educadores aptos a responder às demandas atuais dos contextos educativos. Muitos preparam-se para uma escola que já não existe mais, sem considerar um “novo tipo humano” que desponta numa sociedade submersa e submissa à inteligência artificial, que já decide boa parte da vida por nós. Não somos nós que pesquisamos no Google, é ele que nos pesquisa. Já não somos capazes de viver desconectados. Um ser humano híbrido – meio gente/meio web é o que somos.

Talvez nunca tenha sido tão importante pensarmos em valores, princípios e sentido do que ensinamos. O para quê e o por que são mais emergentes do que os conteúdos. Processos seletivos para preencher vagas docentes ainda estão muito aquém do que a escola precisa. No afã de contratar imediatamente os professores, acabamos por aceitar quem não compartilha de nossa visão educativa. Pensar quem somos, o que queremos e por que dedicamos nossa vida à tarefa de educar é primordial, pois esse será o critério para selecionar quem vai trabalhar conosco. Quem leciona apenas por dinheiro, quem não acredita na possibilidade de mudança do ser humano, quem não aposta em nosso ideal educativo vai desmanchar com os pés o que levamos anos para construir com nossas mãos.

Precisamos dialogar muito, compartilhar experiências exitosas e frustrantes e, acima de tudo, trabalhar colaborativamente, sem ranços de competição (especialmente entre escolas católicas), desenvolver a arte de ouvir uns aos outros, para nos fortalecermos e darmos respostas assertivas ao contexto em que estamos inseridos. Educação é tarefa grandiosa, por isso mesmo, não pode ser entendida como “carreira solo”. Ou vamos juntos ou padecemos.

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade – Secretário Executivo da CNBB Sul 3