Bispos da Comissão Sociotransformadora do Regional promovem encontro com movimentos sociais
Inspirada pelos encontros do Papa Francisco com os movimentos sociais e populares do mundo inteiro, em 2022 a coordenação estadual da 6ª Semana Social Brasileira provocou o episcopado gaúcho e os movimentos sociais para um encontro fraterno de partilha das realidades. A iniciativa, muito bem avaliada por todos, alertou para a importância destes momentos e sugeriu a continuidade deste espaço de diálogo.
Por isso, na última terça-feira (10), a Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB Sul 3, promoveu um novo encontro entre Movimentos Sociais e os bispos da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB Sul 3. A motivação inicial contemplou uma reflexão sobre a Laudate Deum – nova exortação apostólica do Papa Francisco lançada em 04 de outubro.
A atividade reuniu representantes do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Fórum Gaúcho de Economia Solidária (FGES), das comunidades indígenas da Estiva, Van Ka/Lami, Yvy Poty/Barra do Ribeiro e do Conselho de Articulação do Povo Guarani do Rio Grande do Sul (CAPG). As falas das/os representantes dos Movimentos Sociais foram unânimes em destacar a importância do espaço de diálogo aberto pela Comissão Episcopal.
Chirlei Fischer, do MTD, também fez referência ao processo da 6ª Semana Social Brasileira, que abraçou a pauta da fome no estado e entre outras questões destacou a conscientização e organização das pessoas, como tarefa constante de sua organização. Beto Aguiar, do MNLM, agradeceu o apoio da CNBB à campanha “despejo zero” no ano passado, afirmando que a mesma foi uma importante sinalização para dentro da Igreja e também para a sociedade. Lais Tonatto, do MAB, destacou em sua fala as crescentes consequências dos eventos climáticos sobre as famílias com as quais o movimento atua e a importância do trabalho de organização das famílias como única forma de defesa de seus direitos. Ademir Wiederkehr, da CUT, enfatizou que os movimentos sociais são ignorados pelos meios de comunicação e que também por isto a abertura da CNBB é muito importante para os movimentos sociais. Também destacou as várias frentes de atuação da central na defesa dos direitos dos trabalhadores, entre as quais a iniciativa “CUT nas comunidades”, para chegar aos trabalhadores informais e desempregados. Izanete Colla, do MMC, recuperou a trajetória de organização de seu movimento que ao longo de 40 anos luta para acabar com a violência contra as mulheres, pelos direitos das mulheres camponesas e também pela agroecologia e alimentação saudável. Miqueli Shiavon, do MPA, destacou que seu movimento vem refletindo muito sobre os eventos climáticos que batem cada vez com mais força na porta do estado e a crise de valores na sociedade. Em sua fala destacou a importância da ação conjunta entre diversos atores, como recentemente na campanha “Missão Sementes” no Vale do Taquari. Maribel Kauffmann, do FGES, destacou a longa trajetória de construção do movimento da Economia Solidária e da construção de políticas públicas, muitas delas engavetadas nas alternâncias dos governos nas várias esferas. Destacou ainda a importância as ações de formação que o Fórum realizou em sete regiões do estado, os espaços de comercialização como a Feira Estadual que ocorre com muita luta e organização há 27 anos e a retomada do Conselho Estadual de Economia Solidária. Finalizando a rodada de manifestações, os indígenas Santiago Franco (Yvy Poty), Odirlei Fidelis (Van Ká) e Eloir Paulo de Souza da Estiva e coordenador do Conselho de Articulação do Povo Guarani – CAPG, também agradeceram pela abertura do espaço de diálogo por parte da CNBB e falaram do trabalho incansável pela manutenção da cultura indígena e pelo direito ao território que é o que lhes pode dar segurança e tranquilidade. Segundo os indígenas “Nhanderu – ser criador” fez tudo de forma integrada – as pessoas, a mata, a água e que Tupã (Deus Trovão) está revoltado com tudo o que está ocorrendo na natureza. As lideranças manifestaram ainda o quanto lhes é desgastante o não reconhecimento de seus direitos, especialmente à terra, bem como o preconceito: “muitos nos chamam de preguiçosos, vagabundos”, desabafou Santiago. Afirmaram que em mais de 500 anos de luta, os Guarani no RS não tem nem uma dezena de áreas demarcadas e continuam vivendo em pequenas áreas de terra ou em beira de estradas: “a gente nasce, cresce e morre lutando” afirmou Eloir. Já Odirlei, que está cursando direito, disse ser o único indígena numa turma de 72 estudantes e que diz aos seus colegas que eles poderão ocupar cargos de destaque na sociedade, poderão ser juízes, ministros… e que ele está lá, na universidade pra fazer seus colegas conhecer e pensar sobre a realidade dos povos indígenas.
Presentes representando a Comissão Episcopal estavam dom Cleonir Dalbosco, bispo de Bagé e vice-presidente do Regional Sul 3; dom Liro Vendelino Meurer, bispo de Santo Ângelo; Pe. Gil Pereira Júnior, adiministrador diocesano de Rio Grande; e dom Silvio Guterrez Dutra, bispo de Vacaria e presidente da Comissão Episcopal no Regional.
Na ocasião, dom Cleonir afirmou ser muito importante este diálogo aberto com as organizações que defendem e promovem a vida, nas diversas realidades, para que todos possam viver com dignidade. Agradeceu a participação, a partilha e os desabafos, e pontuou que são espaços como estes que poderão somar esforços para construir caminhos conjuntos. Dom Sílvio concluiu agradecendo a presença e as partilhas tão qualificadas, que, para ele, fazem pensar e cumprem o papel de aproximar as pessoas, gerar empatia. O Presidente da Comissão Episcopal ressaltou também que o desafio lançado pelo Papa Francisco, no seus encontros com os Movimentos Sociais, convocando a Igreja a fazer o mesmo, nos provoca a buscar caminhos comuns para encontrar as questões e pautas comuns.
A atividade contou ainda com a presença de Roseli Dias, da Cáritas RS, de Roberto Liebgott e Ivan Cesar Cima, do Cimi Sul, de Sandra Zambon, da CNBB Sul 3, e do Pe. Edson Thomassin, assessor da Comissão para a Ação Sociotransformadora no Regional, que coordenou a atividade.
CNBB Sul 3