Erechim: candidatos às eleições participam de encontro com o clero

Erechim – Quinze dos 20 candidatos à Assembleia Legislativa do Estado e à Câmara Federal da região participaram do encontro de diálogo com o Bispo e os padres da Diocese de Erexim na manhã de terça-feira (28), no Seminário de Fátima. Um justificou ausência por problemas de saúde. Participaram: candidatos a deputado federal: Adacir Carlotto (PHS); André Jucoski (PDT); Carlos Pomagerski (Progressistas); Paulo Polis (MDB); Ito Muller (PPS); Rodinei Candeia (PP); Sandra Picoli (PC do B); candidatos a deputado estadual: Abrão Martins (PSL); Altemir Tortelli (PT); Elves Palkewich (PRB) Gilberto Capoani (MDB); João Grando – Joca (PSD); Kaká Cofferi (PP); Lucas Farina (PT); Paparico Bacchi (PR). Após o encontro, a assessoria de Claudemir de Araújo (PTB) justificou ausência por motivo de saúde.

Na abertura do encontro, Dom José agradeceu a presença de todos, lembrou expectativas dos eleitores da região com os possíveis eleitos. Citou palavras do Papa Francisco de incentivo à participação dos cristãos leigos na política, considerando-a uma sublime vocação. Referiu texto do Papa João Paulo II bem como de documentos da CNBB sobre o mesmo aspecto. O Bispo destacou que se tratava de um encontro para ouvir os candidatos e que a escuta é o primeiro passo de um trabalho comum em favor do povo. Insistiu na necessidade da participação de todos no fortalecimento de atitudes e ações democráticas, sem saudades de ditaduras. E invocou a bênção sobre todos.

Questões apresentadas aos candidatos: 1. Por que se candidatou ou qual o objetivo de sua candidatura? 2. Que projetos de políticas públicas prevê apresentar? 3. Que projetos específicos prevê para nossa região? 4. Para os candidatos a Deputado Federal: Numa eventual retomada da Reforma da Previdência, que posição tomará? 5. Para os candidatos a Deputado Estadual: Quais suas propostas para superar a dívida pública do Estado? 6. Qual sua posição em relação à descriminalização do aborto, da pena de morte, da eutanásia, do desarmamento? 7. Qual sua posição em relação ao congelamento dos investimentos em educação, saúde, segurança e outros para os próximos 20 anos? 8. Qual sua posição em relação à reforma trabalhista? 9. Qual sua posição em relação à tributação das grandes fortunas e da isenção de impostos para os grandes investidores?

Em vista do tempo, as três primeiras foram respondidas por todos. A quarta por dois dos sete candidatos a Deputado Federal. A quinta, por três dos oito candidatos a Deputado Estadual. Da mesma forma, a sexta pergunta foi respondida por dois candidatos a Deputado Federal e por três a Deputado Estadual. Não houve tempo para serem abordadas as últimas três questões. Mas, junto com as outras, foram entregues a cada um deles.

Antes do encerramento do encontro, pelo Bispo, cada candidato teve um minuto para suas considerações finais e todos receberam cópia de textos da Igreja em relação à política.

A seguir, tentativa de um apanhado geral das respostas. A pluralidade de partidos e de participantes torna impossível individualizar o que cada um disse.

Objetivos da candidatura: garantia da representatividade da região; trabalho por saúde, educação e infraestrutura; representação das pessoas buscando para elas saúde pública, trabalho e educação de qualidade e revisão da forma como os recursos chegam aos municípios, pois o sistema de emendas parlamentares se torna balcão de negócio; garantia de uma nova forma de fazer política, revisão do pacto federativo, reforma tributária; urgir investimento prioritário e majoritário na educação, a única área que leva à transformação; atuação na defesa dos trabalhadores e por confiança na política como forma de transformação; trabalho por menos intervencionismo do Estado na economia e revisão do retorno dos impostos aos municípios e ao Estado; luta por um Estado enxuto, eficiente e transparente; empenho pela agricultura familiar e reforma da Previdência; batalhar por cinco áreas fundamentais, saúde, segurança, educação e assistência social; busca de melhorias para a região e para o País, rompimento com a política tradicional.

Projetos de políticas públicas e específicos para a região: Infraestrutura; duplicação da rodovia de Erexim a Passo Fundo; asfaltamento da rodovia 420 até o Paraná; segurança com videomonitoramento nas cidades e no interior; acessos asfálticos para todos os municípios; fortalecimento dos pequenos hospitais; ferrovia e agricultura familiar; hospitais regionais; parcerias público-privadas; asfaltamento da Transbrasiliana de Erexim a Passo Fundo; melhorias na infraestrutura regional; estradas e energia para os pequenos agricultores; superação do déficit migratório na região; pagamento em dia do funcionalismo, especialmente professores e agentes de segurança; correção da declaração do imposto de renda; sistema nacional de educação; saneamento básico; produção orgânica, hospital do idoso e hospital da gestante; revogação da reforma da Previdência e da lei trabalhista; assessoria técnica a projetos da região; pagamento certo do SUS para os diversos procedimentos clínicos; combate à concentração da renda.

Posição em relação à descriminalização do aborto, pena de morte, eutanásia e ao desarmamento: Os sorteados para manifestar sua opinião em relação a isto manifestaram-se contra o aborto ou a favor nos casos previstos na lei; pena de morte: contrários; eutanásia, também contrários; desarmamento, em parte favoráveis, com observação de que a segurança é dever do Estado e que o cidadão deve estar preparado para o uso de arma.

Nas considerações finais, todos foram unânimes em elogiar a inciativa do Bispo e da Diocese em promover este encontro. Algumas considerações específicas destacaram: importância da dimensão religiosa, pois sem religião, em seis meses, o país entraria em convulsão social; necessidade fundamental dos valores éticos e princípios morais; empenho pela defesa da justiça social; tripé básico: família, trabalho e confiança em Deus; outro tripé: valores sociais, religiosos e morais; busca de política com olhar humano; importância do trabalho conjunto e da preocupação da Igreja pela política; a dimensão da fé compromete mais no trabalho com o povo.

Textos da Igreja sobre política entregues aos candidatos: resenha da videomensagem do Papa Francisco aos participantes do encontro sobre política promovido pela Comissão para a América Latina (CAL) e pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), que aconteceu em Bogotá de 1º a 03 de dezembro de 2017. O tema do encontro foi: “Participação dos leigos católicos na vida política”. Parágrafos da exortação apostólica do Papa Francisco sobre a Alegria do Evangelho e do Papa João Paulo II sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo. Parte que fala do mundo da política do documento 105 da CNBB “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da terra e Luz do mundo”. Nota da Assembleia da CNBB de abril passado “Eleições 2018: compromisso e esperança”.

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Íntegra do pronunciamento do bispo

Encontro com os candidatos/as a Deputado Federal e Estadual do Alto Uruguai Gaúcho – Diocese de Erexim – 28/8/2018

Em nome dos Padres da nossa Diocese de Erexim, manifesto meus agradecimentos aos senhores e à senhora por terem aceito o convite para este encontro com o clero. Quero deixar claro que não é um debate, mas julgamos oportuno, conhecê-los e saber de cada um as motivações que os levaram a candidatar-se.

Temos aqui candidatos/a à Câmara Federal, instância máxima do Legislativo da Nação, onde são apresentadas e votadas as leis que tocam a vida de todos os brasileiros, mas também é lá em Brasília que está o cofre que guarda o bolo maior dos recursos provenientes dos impostos do trabalho do povo.

Temos também os candidatos a Deputados Estaduais. Da atuação do Legislativo, o povo do Rio Grande do Sul espera ações decisivas para suas regiões, e nós do Alto Uruguai, estamos na fila há muito tempo, esperando para que todos os nossos Municípios tenham acesso por estrada asfaltada. Esta é uma das tantas outras necessidades, que vocês devem conhecer. Quem for para Brasília ou para Porto Alegre não nos abandone, deixe aqui o coração, porque onde está o coração a gente sempre volta.

A Igreja Católica no Brasil, está celebrando o “Ano Nacional do Laicato”, com o tema: Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14).

O Papa Francisco tem incentivado a participação dos leigos na política: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente a sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum… Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (EG, n. 205). Estas palavras do Papa estão no subsídio a ser entregue no final do encontro.

O Papa São João Paulo II, também deu várias orientações durante o seu pontificado, sobre os leigos e a política: “Os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política destinada a promover o bem comum” (CfL, n. 42). Também isto está no mencionado subsídio. É missão da Igreja oferecer critérios éticos, educação política, conscientização e formação de leigos para o exercício da política. “A militância política é missão específica dos fiéis leigos que não se devem furtar às suas obrigações nesse campo” (CNBB, Eleições 2006).

O Papa Emérito Bento XVI foi um grande incentivador da ação política dos leigos: “O leigo cristão é chamado a assumir diretamente a sua responsabilidade política e social” (SCa, n. 89).

No mundo da política, sendo a missão do cristão leigo direcionada de modo especial para a participação na construção da sociedade, segundo os critérios do Reino, três elementos são fundamentais: formação, espiritualidade e acompanhamento.

– É dever da Igreja:

a – Estimular a participação dos cristãos leigos e leigas na política. Há necessidade de romper o preconceito comum de que a política é coisa suja, e conscientizar os leigos e as leigas de que ela é essencial para a transformação da sociedade.

– Não podemos relegar a religião para a intimidade secreta da pessoa, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Isto nos levaria a uma espécie de alienação que nos afeta a todos. É preciso prestar atenção à dimensão global (…) e não perder de vista a realidade local, que nos faz caminhar com os pés na terra (EG, n. 196,234).

Que o Senhor nos fortaleça na missão para que este encontro possa fortalecer o diálogo entre nós e a esperança no coração do nosso povo do Alto Uruguai Gaúcho.